Sentada no chão do meu quarto, olhando para a parede com todos os pedaços de fita adesiva que não seguraram meu pisca-pisca, para os espaços que indicam os móveis por comprar, para as incertezas amorosas, para meu trabalho com uma lista “a fazer” quilométrica e uma lista ainda maior de projetos pessoais… Vejo o quanto a vida está um caos.
Ao nível de Universo a coisa não fica mais organizada. O conceito de entropia é um dos mais complexos que esbarrei, e mesmo assim, foi difundido porque a “tendência ao caos” precisava de algo em que se segurar. Absorvido pela filosofia, a entropia na física tem como ideia central é a medida da desordem ou aleatoriedade em um sistema.
Mesmo a nível molecular, o máximo que fazemos é subdividir para achar pequenos padrões de ordem, imersos no mundo caótico. Talvez parte da causa do caos seja mesmo essa junção de várias ordens diferentes.
Me explico: minha vida (e a de todo mundo) tem muitas ordens. São as expectativas sociais e as ações que tomamos com base nelas, as ordens morais, pessoais, as ordens que a nossa biologia nos impõem, as ordens que nossas condições materiais implicam. E ordens aí não só no sentido de comandos, mas de estruturas que regem e ordenam. E gosto de especificar porque a interpretação é outro elemento favorecedor do Caos.
Ouvir os gritos das crianças que brincam no térreo, ver o enorme volume de gente em São Paulo e o quanto de livros existem na minha cabeceira são algumas das belezas do caos. E cada uma delas parece me convidar a desfrutar do não-controle, da não-previsibilidade, da incerteza completa sobre qual vai ser a próxima aventura. Não me entenda mal, em grande parte do tempo isso me assusta muito. Acho que todo o tempo. Mas quase em todo tempo também me encanta. E deixa curiosa.
Por isso hoje então eu não desejo um dia de paz para você. Desejo um pouco da aventura curiosa e caótica que apimenta na experiência de viver. E lembre-se: uma parte gostosa de ser humano é ser consciente de si. Se permita tomar consciência do caos que te cerca e preenche, e abrace tudo isso. A simples consciência (mesmo que e inclusive por ser caótica) já é uma experiência memorável. Divirta-se com seu caos.
