Timing — e como Cronos é o verdadeiro deus do romance

Morena
3 min readOct 25, 2021

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Era ele. Não deu tempo de saber se homem ou amor da minha vida. Mas potencialmente um dos dois. Com ele eu podia falar de putaria e teorias da física. Podia mostrar a fragilidade de estar mal e ser acolhida num abraço. Podia ter certeza de que ia acordar cedo quando eu tinha coisas pra fazer, mesmo que eu quisesse mais uma hora de sono. Ele era o cara da classe que eu mais admirava, o amigo em que eu mais via honestidade e o homem em que eu mais tinha tesão. Mas… o timing.

Esse é um dos meus conceitos favoritos. Cronos, olha você de novo dando um salve por aqui. Tudo dentro da vida humana está sempre permeado pelo Tempo. Timing é um de seus filhos. “A sincronia entre um processo e outro(s).” Também pode ser definido como “ a sensibilidade para o momento propício de realizar ou de perceber a ocorrência de algo.”

Pode ser chamado de sorte. Ou acaso. Mas essa sincronia e sensibilidade entre o tempo de cada pessoa me parece ser o fator determinante dos romances. Mais do que encontrar a pessoa certa no lugar certo, o que conta é o momento em que esse encontro acontece. No limite de uma existência linear, a dimensão temporal é a que menos controlamos.

Eu não estava pronta quando o conheci. Estava no meu ano sabático depois de ter deixado meu coração se partir muitas vezes. Tentei deixá-lo guardado enquanto me aproximava daquele outro coração, com feridas bem diferentes das minhas. É, ele também não estava pronto. Já tinha há algum tempo desistido de seu próprio processo. Mas dentre todas as infinitas possibilidades de interações entre átomos do Universo, nós interagimos. Trocamos palavras, ideias, figurinhas e afeto. Muito. Que viraram toques, beijos, abraços e cafés.

(Aqui, Cronos, te peço licença. Nós humanos não viajamos no tempo, mas essa foi uma relação que resgatou em mim algo que pensara ter perdido quando a Morena nasceu. Ela, para me fazer mais forte e desapegada, teve de esconder por muito tempo minha preferência pela doçura das relações cuidadosas. E a essa “reação química” que eu gostei tanto, devo meu mais sincero agradecimento por me mostrar que é possível acordar todo dia com a cama e o coração cheios de carinho.)

Nos entregamos dentro de nossas próprias medidas e capacidades. Eram diferentes. Eu, emocionada e otimista como sempre. Ele, acreditando que não poderia ser muito diferente das histórias que vivera antes. Tentamos reduzir o ritmo quando percebemos o descompasso. Mas é mais ou menos por o pé no freio quando você está a 180km/h com o farol fechando.

E como profecia autorrealizável, hoje não acordamos mais juntos.

Como todo rompimento, esse trouxe uma importante epifania. Entendi que Cronos mostra sempre aos ansiosos, como eu, que relações são construções que não se podem acelerar. Se tentar, desmoronam. E eu, insegura sobre quanto tempo alguém tão incrível poderia ficar, tentei. E acabou. Trouxe um montão de ensinamentos de pôquer, economia, rock, sinuca e sentimentos. Espero que também tenha levado a ele algo que o faça sorrir.

Afinal, Cronos, agora é com a gente outra vez. Tem outras aventuras virando ali a esquina da próxima semana. Que eu ache o timing comigo mesma dessa vez. Esse que é essa construção diária, que com o tempo (e com um pouco de ajuda do Tempo) a gente vai gostando mais de viver. E vai ressignificando quem são os maiores amores das nossas vidas. Vai se incluindo e se priorizando nessa lista. E quem sabe descobre que a sincronia em que a gente realmente precisava entrar era a nossa. Timing.

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Written by Morena

Eterna aprendiz na escrita e na vida adulta. Falo principalmente de (e com) amor, próprio e pelo outro.

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