No jantar (parte I)
Todo final de ano, a pequena agência de marketing digital onde Manuela trabalha promove um jantar de comemoração. A cerimônia é simples, mas muito animada. As premiações vão desde melhor desempenho até funcionário-mais-criativo-na-hora-de-mandar-um-cliente-à-merda. E o jantar costuma ser só o aquecimento para uma noite de dança ou karaokê. Nos três anos em que Manu esteve lá, sempre foi seu dia de trabalho mais esperado.
Nesse quarto jantar as coisas estavam diferentes. Apesar da mesma equipe, do mesmo restaurante, dos novos prêmios e das constantes risadas, ela não podia deixar de notar. Do outro lado da mesa, ele a olhava. Ela queria olhar de volta. Queria saber se era curiosidade ou coincidência. Talvez ele também buscasse respostas para o que aconteceu com os dois naquela noite no escritório. Talvez ele tivesse as próprias conclusões sobre isso. Talvez ele também pensasse naquela sala de reuniões com frequência. Talvez ele quisesse dizer que aquilo nunca mais vai acontecer. Manuela não sabia.
Na mesa entre eles, a pequena equipe parecia uma multidão. Mesmo sentada ao lado de Alice, sua melhor amiga e perfeito álibi, Manuela não podia se permitir um erro. Se o burburinho nem precisa de provas pra começar, imagina alimentar a rádio peão com uma troca de olhares, com, Deus me livre, um sorriso. Sentimentos aqui não podem ser mais do que dedicação e bom humor.
Ela precisaria disfarçar a curiosidade.
Decidiu de forma quase involuntária manter-se o quanto conversando com a equipe naquela ponta da mesa e seguiu absorvendo aquela presença com sua visão periférica. Seguiu fingindo uma indiferença que nunca foi dela. Talvez nem dele.
Chegaram os pratos principais.
