Histórias de Cidade — Metrô de São Paulo
Vestiam jeans e tênis, os dois. Ele de jaqueta, ela de camiseta. Ela de óculos escuros e aquela bengala dobrável de metal. Olhava para frente enquanto conversavam, mas a seu modo mostrava enxergar aquela história com bom humor. Me refiro a essa que ela contava animadamente. Ele sorria sentado naquele banco largo, com ela em seus braços, sem desviar o olhar do rosto ou dos movimentos da companheira.
Os dois falavam não sei de que, não sei há quanto tempo, mas a cada sorriso que ele direcionava a ela, parecia ser a primeira vez que a ouvia e que se encantava. Ela, por outro lado, se expressava com a alegria e tranquilidade de quem está em companhia familiar e agradável.
Fui só uma espectadora da janela do metrô. Nos poucos segundos com a sorte de vê-los, o encantamento me tomou. Sem nenhuma lição de moral sobre alguma dificuldade física, aquela garota me mostrou de longe como a vida é mais leve para quem vive e sorri no agora. A independência de quem se deixa cuidar, mas transmite em cada gesto que sabe se virar sozinha. Aquela energia de saber que já é quem deveria ser. E me inspirou porque pude ver quem vê o mundo com muito mais do que os olhos. E a felicidade é mesmo uma cena linda de ver.