Eu vi casais no parque. Mães com seus filhos. Amigos treinando juntos. No fone de ouvido, uma eletrônica melódica em que o eu lírico dizia “sei que não estou sozinho”. Música de correr. Porque vim correr. Parei quando minha alma começou a soltar confete.
Não corri de nada. Nem para chegar a algum lugar. Meus passos iam aproveitando o clima ameno, o barulho do vento e o contraste das cores nas árvores. Os casais me fizeram ver e sentir amor em cada folha. Isso me conectou a música. E não me senti sozinha. Como me senti tantas vezes na última relação. Correndo sozinha agora onde vi tanto carinho entre pessoas, me senti na companhia do próprio Amor.
O encontro com o Amor hoje me surpreendeu. Sabe quando você acha que um sentimento vai estar sempre ligado à uma pessoa? Ou a qualquer outra pessoa do lado de fora? Eu senti por muito tempo que as coisas eram assim. Adorei estar errada.
Hoje não busquei na minha antiga referência de amor nada que podia encontrar na minha vida presente. Nem para comemorar as vitórias, nem para pedir ajuda. Nem para pedir afeto, quando podia encontrar carinho incondicional nos meus amigos. Parei de procurar pelo passado na minha alma, mesmo que ainda volte à minha memória. Tudo bem voltar. Tenho muito a aprender. Mas até a memória está diferente. O que antes era central virou uma representação de todas as vezes que fugi de mim para chegar ao outro. Porque agora, até na memória de quando eu me neguei para caber nas necessidades de alguém, consigo entender que sou a protagonista da minha história.
Essa consciência tem gosto de um novo remédio. Uma cura mais doce. Porque cada vez que eu me valido sem o outro, eu estou olhando para dentro. Estou me dando voz e ouvidos. Nesses passos eu me conheço melhor, me aceito mais e aprendo que o Amor está aqui dentro, não ali fora. Esses passos fazem milagres no cardio. Fortalecem a jornada de ser eu mesma. E ser quem eu sou tem o sabor mais gostoso que já senti.