Um par de olhos que se cruzam. Um sorriso. Uma surpresa em como ele se expressa.
Um cabelo bagunçado. Uma escuta ativa. Uma surpresa em como ela me entende.
Da admiração à identificação. Da provocação ao ato. Do ponto aos pontos. As paradas para olhar e ver a mágica de se permitir estar, ouvir, surpreender.
Não sei bem o que faz o desejo, mas todos os pontos importam. No silêncio, o mais importante. A pausa que não é o ponto final. Que é promessa, vírgula, continuidade. Sem reticências. Apenas mais.
O fôlego entre ter a mente cheia de ideias e o corpo cheio de movimento. O suspiro entre o coração cheio de fé e o tesão cheio do outro. E a paz.
A paz de encontrar a si quando se encontra o outro. Não como o espelho psicanalítico nem como a projeção romântica. É metafísico. Ouvir(-se). Ver(-se). Paixão de uma noite completa em si mesma. Independente de quantas noites se somem.
Aquele um metro e sessenta parece ocupar toda a casa. E seus quase um metro e oitenta a cobrem de liberdade. Sua voz harmoniza com os sons da manhã, inspirando o dia a nascer bonito. Cada um dos autores daquela casa parecia absorver o conto que ali se escrevia. Crônica, talvez. Tantos casais de temporada criando suas próprias trivialidades únicas por aí. Cercados de poesia. A mistura de literatura clássica e problemas modernos.
Sol. Beijo. Livros. Café. Abraço. Bossa nova.
E a tentativa de preservar na memória o intraduzível, o infotografável: o sentir no presente. O olhar sobre algo é querer mais. O sabor. O toque. O som. O cheiro. O calor. A vontade de que dure mais e de que o tempo não caminhe. De que nada mude. Mas de que tudo aconteça. Acho que é ao chegar nessa vontade que sei que alcancei o desejo.