Ela está mais seca. E enrugada. Desabrochou e perdeu um pouco da maciez nas pétalas, de quando ainda era um botão. Já mudou um pouco de cor por fora, o tempo e o frio tiveram efeito nos seus contornos.
Mas segue sendo uma flor. Sua cor ainda é vibrante. Nas pétalas mais protegidas do mundo exterior, segue macia e com seu perfume. Resistiu bravamente, por mais tempo que a maioria. Acho que por isso mesmo vejo mais beleza nela hoje do que no dia em que chegou. Afinal, Saint-Exupéry tem razão: é o tempo que dedicamos às nossas rosas que as tornam tão importantes.
Dedicar tempo ao que sabemos ser efêmero é mesmo uma prova de amor. E vemos isso em vários tipos de amores. No amor que os pais dedicam aos filhos, sabendo da reciprocidade limitada, pelo menos nos anos iniciais. Cuidam com amor para que descubram o mundo e, um dia, não estejam mais na mesma casa. O amor que dedicamos aos pets, abraçando, de forma consciente ou não, uma vida que veremos partir. De alguma forma, também é assim com as flores dos romances.
Sabendo que um dia acaba, aprendemos — nem sempre de forma fácil ou consciente — que só temos o hoje com tudo que amamos. Hoje para admirar a beleza e sentir o perfume. Hoje para demonstrar carinho. Hoje para sorrir com as coisas simples e se encantar de novo pelo que conhecemos. Porque amanhã nosso objeto de amor toma outro caminho, o vaso se rompe ou por algum motivo chega a hora de dar adeus.
Já rompi mais laços do que gostaria. E sei que isso é só o começo. Foi uma grande oportunidade ter dedicado tempo às flores que me encantaram. Por isso desejo que no momento de se despedir de algo que amamos (no presente ou no passado), tenhamos a confiança de que vivemos ao máximo essa experiência tão humana. Com os altos e baixos, lágrimas, sorrisos, lições. Que o tempo não tire de nós a capacidade de amar as flores que existem em nós.