A vida é muito rara
É difícil acreditar que a vida tem um sentido. Objetivamente falando. Não que a fé não tenha encontrado boas respostas — o que inclusive inspira algumas religiões (enquanto outras, bem, são inspiradas por outras… buscas). Mas pensando fora das perspectivas espiritualistas, é improvável que um “porque” nos espere em algum outro lugar. Isso com frequência me põe a pensar. Se eu não acreditasse num propósito anterior ao meu nascimento, ou se em algum momento, eu, como muitos que amo, acreditar que não ha, será que ainda acreditaria que a vida tem uma justificativa?
O primeiro que me vem à mente são minhas vagas noções de probabilidade. Nascer é uma experiência rara. Dentre todas as combinações de átomos no mundo, dentro todas as galáxias que poderia habitar, em todos os recortes possíveis do espaço-tempo, experimentar a vida num corpo físico é uma chance em muitos, muitos trilhões. Baixando para o nível terrestre, em termos estatísticos, podemos dizer que a probabilidade de existência de um indivíduo específico é extremamente baixa. A probabilidade de um único espermatozoide fertilizar um óvulo é cerca de 1 em 250 milhões. Considerando a probabilidade de que seus pais se encontraram, e seus avós, e assim por diante, a chance de você existir como você é hoje é estimada em 1 em 10^2,685,000.
E, na minha perspectiva, só por isso a vida merece ser vivida. Mesmo que nada mais exista, em termos de vida autoconsciente, depois dessa experiência num corpo físico. Talvez, inclusive, exatamente por essa chance de que nada exista, existir seja o maior sentido da existência.
Vejo grandiosidade quando olho para a raridade do mundo que habitamos e da vida que vivemos. Não que a gente precise fazer uma “grande coisa” com essa vida para que a grandiosidade se justifique. Mas é mais ou menos saber aproveitar que você sente frio, calor, que pode comer, viajar, aprender e se apaixonar.
Com a ajuda da tecnologia, cheguei no seguinte: “A probabilidade de uma pessoa experienciar um evento emocional marcante, como se apaixonar, pode ser modelada como uma variável aleatória com uma distribuição aproximadamente normal, onde a média pode representar o número médio de eventos significativos que uma pessoa vivencia ao longo de sua vida. Se considerarmos que a vida média é cerca de 80 anos e que uma pessoa pode experimentar, em média, um evento emocional marcante a cada 5 anos, isso nos dá aproximadamente 16 eventos significativos. Cada um desses eventos é uma realização rara na distribuição da vida humana.” Considere que para pessoas com uma vida social ativa, em grandes cidades, estima-se que esses indivíduos conheceram, na média, 1000 pessoas ao longo da vida. 16 delas serão “eventos emocionais marcantes”.
Para aproveitarmos o extraordinário, ele não precisa de grandes significados. Mesmo quando a gente se propuser aos grandes desafios, podemos fugir da lógica de engrandecimento para validação. Porque, no fundo, nenhum significado é muito grande perto do cosmos. Por isso, ele só precisa ser grande dentro da sua experiência.
Acreditar que somos unidade também faz parte de acreditar na boa vida. Não só de perspectivas espiritualistas. Do ponto de vista da Ciência, você é uma materialização do Universo. Segundo meu físico favorito, essa materialização para que o Universo se entenda melhor (Carl Sagan). Em termos evolutivos/biológicos, é por isso você tem impulsos de cuidar daqueles que ama. Por isso você tem empatia. Porque a Vida é sobre entrega. Ela nasce disso. Se expressa nisso. E se integra outra vez nisso.
Poderíamos seguir explorando como a probabilidade influência nossos corpos (heranças genéticas, onde cada gene herdado de nossos pais é um resultado possível numa distribuição genética específica), nosso psicológico (influências ambientais, incluindo as relações sociais, em uma de probabilidade condicional, onde o desenvolvimento individual depende de condições prévias e fatores externos) e todos esses fatores externos que não podemos controlar. Ouso dizer que há algo de “sorte” ou como as probabilidades viraram a seu favor dado que, minimamente saudáveis e com nossas faculdades mentais funcionando, estamos você e eu aqui. Havermos nos tornado exatamente quem somos é também uma raridade probabilística.
Nos dias em que minha força não parece suficiente, e há tempos atrás, quando eu precisava me esforçar para encontrar o sentido de seguir respirando, saber dessa raridade me fez respeitar e valorizar mais a minha vida. E toda Vida que encontro. Hoje, é o Top 01 de motivos para encarar meus medos, desafios e experiências. E espero que possa ajudar mais alguém.